Alguns personagens da história humana têm essa sina. Sina criada por si ou terceirizada. Seres únicos nos seus afazeres do trabalho. Mas que na vida privada erram moralmente, acreditam duvidosamente, discursam mal publicamente. Aceitar o personagem jogador de futebol Neymar, com sua inigualável habilidade e competência talvez seja mais racional para muitos. Como somos feitos dessa mistura única de razão e emoção e nossas conexões apaixonadas nos garantem nossas incompreensões, intolerâncias, desconfianças, contradições morais, divergências de crenças na existência ou não de um Ser superior a todos nós, além de nos colocarem na posição de julgadores, acabam por decretar nos nossos íntimos essa dicotomia coletiva sobre o homem Neymar.
Por isso, como sempre digo, não existem duas pessoas, como querem alguns fãs de carteirinha desse conceito torto. Somos personagens/unidades. Cada ser humano é o que é, seja exercendo a profissão ou no seu cotidiano familiar, ou no tempo de diversão, oração, quietude.
Neymar, homem, é imperfeito, como todos nós somos. E enxergar isso num ídolo, candidato a herói ou anti-herói das massas, faz com que ele se veja, e nós, também, ora como Batman, ora como Coringa.
Queríamos mais do Neymar. Como brasileiros, como boleiros, como seres humanos que acreditam que sucesso, fama e dinheiro poderiam andar juntos sem causar estragos aqui e acolá.
Por isso tudo e mais vários outros temperos é que o Neymar, 30 anos, não tem a paixão nacional ao seu lado.
Eu estou nesse meio da turma. Neymar é craque na bola, mas não foi na escola. Fez e faz falta o tempo das cadeiras e convivência escolar. E é uma pessoa que vive em meio a futilidades e propriedades. Sim, tem coisas boas construídas na vida privada. Bons, porém poucos exemplos para o tamanho da sua projeção planetária. Não gosto do discurso mimimi, quase sempre presente no homem Neymar. E apesar do contexto sempre vendido pelo seu entorno (pai e ele mesmo), de família, ele não construiu o que a sociedade enxerga como família, com parceira, filhos, ninho, etc, como, por comparação inevitável, têm Messi e Cristiano Ronaldo, apenas como exemplo.
Eu posso afirmar que tenho o prazer de ter, bem de perto, visto nascer e brilhar um dos maiores jogadores do planeta bola. Dessa parte do ser único Neymar, sou apaixonado, sim. Da "outra" parte, observo, não julgo, digo, julgo, sim. Não aprovo grande parte das traquinagens do homem Neymar. Ele sofre por querer o que todos nós queremos: aceitação do que somos e do que fazemos. Bem-vindo à vida, menino, garoto e homem, Neymar.
Bira Castellano
Apresentador, redator & Comentarista
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